Motivado por uma reportagem do jornal Fato Novo da cidade de São Sebastião do Caí sobre o projeto da Avenida Bruno Cassel, decidi escrever um manifesto em favor da diminuição da velocidade dos carros e da criação de ciclovias adequadas.
Link para quem tiver interesse na reportagem do jornal:
http://www.fatonovo.com.br/a-doutor-cassel-sera-uma-avenida-para-pedestres-not-2926.php
Em tempos
em que o Brasil e o mundo discutem soluções para os problemas de mobilidade
urbana e sustentabilidade, pensar em modelos urbanísticos que privilegiem os
automóveis, com certeza não é o melhor caminho a se seguir.
São Sebastião
do Caí não está fora deste contexto e a população tem o dever de discutir
soluções que dizem respeito a todos, então, não há melhor momento para isso que
antes da obra estar concluída. Refiro-me ao projeto da Avenida Bruno Cassel
apresentado na reportagem do dia 2 de abril (http://www.fatonovo.com.br/a-doutor-cassel-sera-uma-avenida-para-pedestres-not-2926.php).
Algumas
das mais importantes cidades do mundo estão buscando soluções para melhorar as
condições dos pedestres e assim tornar as cidades mais humanas e agradáveis. Um
bom exemplo disso é Nova Iorque –EUA (cidade com mais de 8 milhões de
habitantes), que em 2009 decidiu aumentar em 53% o espaço para pedestres em um
dos pontos de maior tráfego de cidade, a Times Square (Figura 1). “Em
alguns trechos da avenida, os carros perderam três pistas, convertidas em
ciclovias e calçadões”[1]. A decisão de priorizar
formas alternativas de circulação como a bicicleta teve como resultado a
melhora na circulação de veículos. O que poderia parecer contraditório para
alguns, ou seja, diminuir os espaços dos carros se mostrou uma solução interessante
também para a redução de velocidade e maior segurança para as pessoas além de
contribuir para a baixa no número de veículos no local.
Não faltariam bons exemplos pelo
mundo (Amsterdam, Barcelona ou Paris) para seguir argumentando em favor de mais
espaço para pedestres e ciclistas. No Brasil, em um ritmo mais lento, mas
também em progressão, a situação vem melhorando. São Paulo, Rio de Janeiro e
Aracaju são algumas das capitais que vem tomando providencias nesse sentido.
Por aqui, “Porto Alegre deve receber mais 30 quilômetros de ciclovias até o
final deste ano, atingindo um total de 50 quilômetros. ” [2]
Figura
1 (Times Square – antes e depois)
Todas essas atitudes não buscam
somente atender a um crescente contingente da população usuário de bicicletas,
mas sim, melhorar e incentivar hábitos de vida saudáveis, melhores condições de
vida em comunidade, segurança, sustentabilidade e mobilidade urbana.
Pode-se imaginar que os exemplos de
grandes cidades europeias não sirvam de referencia para um município de pequeno
porte do interior do Rio Grande do Sul, como é São Sebastião do Caí, o que eu
não concordo. Os bons exemplos estão aí para serem seguidos, e a transformação
da cidade e a melhora das condições urbanas podem ser alcançadas muito mais
facilmente em uma cidade pequena que em uma grande cidade, onde o grau de
complexidade urbana é muito maior.
Pensando em escala regional ou local,
e se comparamos os dados de São Sebastião do Caí, fornecidos pelo IBGE, com
algumas cidades do Vale do Caí, percebemos que o município é o que possui maior
densidade demográfica, o que demonstra um potencial para criação de ciclovias e
facilidade para mobilidade urbana dentro de seu perímetro. Pois isso significa
que possuímos mais habitantes por metro quadrado em comparação aos municípios
vizinhos, ou seja, as pessoas vivem mais próximas umas das outras, fator
diminui as distancias como a locomoção ao trabalho, por exemplo.
CIDADE
|
POPULAÇÃO ESTIMADA (2012)
|
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
(HAB/M²)
|
FROTA (AUTOMÓVEIS)
|
RELAÇÃO POPULAÇÃO X VEÍCULOS
|
São Sebastião
do Caí
|
23.128
|
196,81
|
7.271
|
31%
|
Feliz
|
12.992
|
129,59
|
4.715
|
36%
|
Bom
Princípio
|
12.644
|
133,20
|
4.360
|
34%
|
Montenegro
|
62.484
|
140,13
|
21.202
|
34%
|
Portão
|
33.212
|
193,38
|
12.125
|
36%
|
Porto
Alegre
|
1.467.816
|
2.837,53
|
550.289
|
37%
|
Tabela1 (Guilherme Zamboni Ferreira)
Outro ponto importante da comparação
com os municípios vizinhos é a relação de automóveis por habitante. A cidade
tem a menor relação dentre os municípios comparados, sendo que apenas 31% do
total da população possui automóvel. Dado que serve de argumento para
demonstrar que não temos nenhuma necessidade de uma “via rápida” ou “via
expressa” para chegarmos com rapidez ao destino desejado, pois estamos tratando
de 1/3 do total da população e partindo do ponto que a verdadeira ordem de
prioridades de uma rua/avenida com qualidade, e que privilegia a segurança dos
mais frágeis (pedestres e ciclistas) e depois os transportes coletivos (mais
pessoas dentro de um mesmo veículo) é: 1- pedestres, 2 – ciclistas, 3 –
transportes públicos e 4 – transportes privados.
Figura
2 – Pirâmide de Prioridades (Guilherme Zamboni Ferreira)
Então, a decisão de diminuir a
velocidade dos veículos na antiga RS122, hoje Avenida Bruno Cassel é correta e
está de acordo com as atitudes que vem sendo tomadas nos países do Primeiro
Mundo, assim como em todas as cidades que estão preocupadas com qualidade de
vida e segurança no trânsito.
Figura
3 – empresa localizada na Av. Bruno Cassel, um bom exemplo que justifica a
ciclovia.
A iniciativa de integrar a avenida ao meio urbano é um interessante
ponto de partida para melhorar a cidade, o que deixa a desejar é a busca por
um diálogo com a população, estou de acordo que ter uma ciclovia é melhor que não ter,
mas só isso basta? Creio que não, penso que um projeto de tal importância para
a cidade merece um pouco mais de cuidado, pois se trata do principal acesso da
cidade, ou o cartão de visitas e boas vindas.
O Caí tem uma grande vocação ao
ciclismo basta andar pela cidade e prestar atenção à quantidade de bicicletas
que estão circulando pelo centro, fator que poderia ser comparado a uma cidade
europeia e que deveria ser potencializado e valorizado pelos projetos
urbanísticos. Ou seja, o projeto urbanístico dever ser feito interpretando as
características e valores importantes da cidade, e se colocando em escala
adequada ao tamanho do município.
PROPOSTA ALTERNATIVA
Para não ficar somente no campo das
ideias e críticas, proponho um estudo urbanístico alternativo ao já apresentado
como forma de fomentar o debate entre a população sobre o que se deveria fazer
com esta avenida. Primeiramente, penso que o debate e a proposição de ideias
podem despertar a curiosidade a respeito de um projeto que busca o bem comum, e
é com este objetivo que apresento uma proposta em nível de estudo preliminar
para este caso.
O estudo toma como ponto de partida a
pirâmide de prioridades apresentada anteriormente (figura 2) e entra em acordo
com a iniciativa de diminuição da velocidade dos veículos proposto pela
prefeitura. A proposta se diferencia do atual projeto municipal por suas
preocupações estéticas e de segurança.
Um ambiente confortável e seguro para
caminhar e andar de bicicleta pode colaborar para o aumento da qualidade de
vida das pessoas e com esse objetivo que se propõem uma solução com a faixa de
rolamento (espaço dos carros) separada dos ciclistas e pedestres, pois assim se
tem maior proteção e menos risco de um contato com veículos de maior tamanho.
Diferentemente da proposta atual, que
possui um canteiro central, o que se propõem aqui são dois canteiros laterais
que aproveitam a estrutura existente da atual avenida para formar duas
ciclovias, uma para cada sentido, além de calçada, iluminação e proposta de
arborização. Resumindo, não se trata de diminuir o espaço dos carros, mas sim, mantê-lo
como está, acrescentando faixas de segurança distribuídas pelo trajeto, e
utilizando o acostamento para ciclovia e calçada, assim como no projeto da
prefeitura.
Figura
4 – Imagem aérea da Avenida Bruno Cassel e RS122.
Uma proposta mais completa desta avenida que conforma
os dois principais acessos da cidade também deveria comportar, ao longo de todo
trecho, mobiliários urbanos (bancos, lixeiras, equipamentos de ginástica, por
exemplo) que formem espaços de permanência, melhoramento dos dois acessos da
cidade, e assim tornando-os mais convidativos aos turistas que passam pela
rodovia RS122. Também se deveria pensar em pontos de ônibus com qualidade e
conforto nos dois extremos da avenida que possam interligar o transporte
público local com o intermunicipal e interestadual, proporcionando a um maior
número de pessoas o acesso à cidade, principalmente em tempos de festas
comunitárias como Festa da Bergamota, por exemplo.
[1] http://www.ecocidades.com/2011/03/23/times-square-nova-york-adeus-carros-alo-pedestres/
[2] http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2014/02/ciclovia-de-porto-alegre-vai-ganhar-mais-30-quilometros-ate-o-fim-do-ano-4429741.html
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